Mas passemos à história, que esta narrativa já vai longa e vós, nobre leitor, estais tão ansioso por sabê-la como eu por contá-la.
Rosalina era uma moça jovem de seus dezanove ou vinte anos, rica de carnes, grelo estreito, seios férteis e volumosos. Rapariga prendada que dominava as artes da leitura e da escrita, de trautear melodias na flauta e de carregar nas teclas do carrilhão que animava a missa, todos os domingos de manhã e sábados à tarde, era ainda tutora de uma turma de catequese, com miúdos entre os catorze e os quinze anos. Era pois, uma moça feliz.
Rosalina era uma moça jovem de seus dezanove ou vinte anos, rica de carnes, grelo estreito, seios férteis e volumosos. Rapariga prendada que dominava as artes da leitura e da escrita, de trautear melodias na flauta e de carregar nas teclas do carrilhão que animava a missa, todos os domingos de manhã e sábados à tarde, era ainda tutora de uma turma de catequese, com miúdos entre os catorze e os quinze anos. Era pois, uma moça feliz.
Rosalina vivia na bela e antiga aldeia de Barqueiros, terra de gente rija e de tradições, de povo honrado e temente a Deus. Na sua maioria pescadores de muitas marés, os homens de Barqueiros toleravam pouco a intromissão de estranhos no seu meio. No entanto, por obra e graça do destino e das designações da divina providência, o pároco local, amigo dos copos, canecas, garrafões e pipas de bom vinho, encontrou a morte como consequência de uma prolongada e devastadora cirrose. O bispo de Guimarães, D. Ansião da Pina, perante tal fatalidade não hesitou e tomou a decisão pela qual o povo clamava: chamou o irrascível e sagaz Padre Maciel, famoso pelos métodos pouco ortodoxos, mas eficazes que utilizava para pregar a palavra de Deus.
A chegada de Maciel a Barqueiros, ao vigésimo primeiro dia do mês de Julho de mil oitocentos e três, revestiu-se de grande pompa e circunstância . As gentes da aldeia vestiram as suas roupas domingueiras, obrigaram as crianças a calçar os seus melhores sapatos, de mantas encheram as janelas e de erva doce e rosmaninho os caminhos de Barqueiros.
Maciel, com a sua postura firme e erecta, o seu cabelo irrepreensivelmente penteado com brilhantina, a todos sorria e a todos dava cumprimentos e abraços, inspirando desde logo confiança e amizade no povo da terra. Depois da má experiência com o anterior padre, ao novo sacerdote vaticinava-se uma carreira próspera e pura, dentro dos mais rígidos parâmetros da moral cristã.