sábado, dezembro 02, 2006

Passaram-se assim alguns meses, e quando finalmente chegou a ordenação do Bispo, a aldeia organizou uma festa de acolhimento ao novo padre.
A festa durou um dia inteiro, começando logo pela manhã com discursos de boas vindas por parte dos habitantes. Seguiu-se um farto almoço que só terminou pela quatro horas da tarde. O ponto alto da festa estava marcado para as sete horas, com a celebração da primeira missa ao cabo de dois anos e meio de interrupção.
A igreja estava superlotada. Até mesmo os infiéis quiseram pisar o solo sagrado para ouvir Maciel. Conhecedor destas andanças, o padre fez um discurso laudatório, enaltecendo o carácter lutador daquelas gentes e elogiando o seu espírito de sacrifício. Toda a aldeia se rendeu aos encantos de Maciel.
Os tempos que se seguiram foram os mais auspiciosos da vida de Maciel. O presbítero era adorado pelos habitantes de Canas de Senhorim a tal ponto, que todos os dias lhe eram ofertadas as mais variadas coisas.
No entanto uma coisa preocupava e de que maneira o protuberante padre: por mais que Maciel se esforçasse, as devotas de Canas de Senhorim insistiam nas suas longas caminhadas até à aldeia mais próxima para se confessarem, enquanto os homens e as senhoras mais idosas passaram a fazê-lo na sua igreja assim que o presbítero ali se instalou por ordem do Bispo.
Intrigado andou durante várias semanas o fiel servidor, até que resolveu indagar a fundo a razão do parco sucesso entre as mais voluptuosas pias, munindo-se para tal de uma das suas mais poderosas armas: a influência que invariavelmente tinha nos mais jovens, ávidos de conhecimento sobre as artes do galanteio. Para tal, numa tarde de pouca afluência, chamou a si o jovem Anacleto.
Anacleto era um jovem que em tudo fazia lembrar Ruben. Talvez por isso mesmo Maciel o interpelou, pensando saber lidar com o jovem dada a sua experiência passada em Barqueiros.