terça-feira, abril 04, 2006

2º Episódio - Convento de Vilar Formoso


Dois anos levou Maciel a ordenar o seu espírito; dois anos que, longe do profano e podre mundo dos Homens, lhe permitiram fazer uma profunda viagem ao âmago do seu ser, às raízes da sua essência e ao centro da sua cognoscência.
Melancólico e agastado, Maciel lentamente ia caindo na cascata de desilusões que lhe devassavam a alma. A água já não corria das fontes, os passarinhos não mais construíam os seus ninhos, os dias tornavam-se noites e os rios corriam para um mar de lamúrias, incertezas e pensamentos apocalípticos.
À beira do descalabro, Maciel já não acreditava que a mãe Natureza pudesse retomar a alegria de outrora, até àquela bela manhã em que o sol de novo sorriu para o bom pároco. Tudo se passou assim, e Deus é testemunha de que este humilde escriba à verdade não está a faltar: Maciel acordou, como habitualmente com o cantar do galo, conhecia o dia a sua aurora. A sua anatomia genital matinal obrigava-o a dormir de costas, a modos que, quando se levantava, o seu corpo visto de lado assemelhava-se a um pionés hirto e pontiagudo. Ao abrir a porta principal da casa, deparou com a habitual vista da Quinta dos Anjos, local escolhido para o seu exílio espiritual.