À noite Maciel não conseguiu dormir, preocupado com o que sucedera e com a ameaça de Rosalina, já que o presbítero temia o que poderia acontecer à sua pessoa se o povo de Barqueiros soubesse o que se passara. E foi nessa mesma noite que a campainha de Maciel tocou. O padre, já embriagado com os seis bagaços que bebera, foi abrir a porta: era um seu aluno da catequese, Ruben de seu nome:
- Boa noite Sr. padre.
- Boa noite Ruben, que assunto te traz por cá?
- Venho numa missão ingrata Sr. padre. Venho-lhe dizer em nome de todos os meus colegas da catequese que vimos o que se passou esta tarde na igreja, e queremos uma contrapartida para mantermos o nosso silêncio.
O padre assustado não conseguiu articular palavra e manteve-se calado a ouvir as exigências do petiz:
- Como sabe Sr. padre, eu e todos os meus colegas estamos a passar a fase da puberdade, em que começamos a nutrir um gosto especial pelo sexo oposto. Por isso queremos que nos ensine a ter relações sexuais e também que convença a Rosalina a dar-nos uma aula prática…
Maciel quase desmaiava com semelhantes afirmações, mas apenas conseguiu balbuciar entre dentes que lhe daria uma resposta no dia seguinte.
Recorrendo a todo o tipo de calmantes que encontrou, Maciel conseguiu a muito custo adormecer e quando acordou no dia seguinte, já eram quase oito horas da noite.
Vendo a sua vida a andar para trás, Maciel percorreu quilómetros às voltas pela residência paroquial, acendendo cada cigarro com o anterior, suando quase até à desidratação total. Passavam alguns minutos das nove horas quando o padre tomou a firme decisão: saindo de casa num assomo de coragem, foi de encontro à praça principal da aldeia, sítio onde os mais velhos se encontravam para conversar e os miúdos brincavam. Ruben era um rapaz dos seus quinze anos, senhor de um princípio de bigode, cabeleira farta e negra, olhos cor de ébano cansados do trabalho no campo, invariavelmente vestindo uma camisa castanha e calças de fazenda cinzenta seguras por uns já velhos suspensórios. Se havia alguém a quem os jovens de Barqueiros obedeciam cegamente, alguém dotado de uma personalidade e irreverência fora do vulgar, era ele. Ao ver Maciel descer a Rua dos Pescadores estugando o passo em direcção a ele, Ruben sentiu um calafrio…
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home